quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Aula Aberta: Construir a permanência do estudante-trabalhador na Universidade

Participar da Aula Aberta: Construir a permanência do estudante-trabalhador na Universidade como ouvinte no ano passado e como componente da mesa esse ano foi simplesmente demais! Ajudar no planejamento da aula e sugerir assuntos para a próxima é um reconhecimento sem tamanho para alguém que sempre almejou chegar longe, mas nunca esperou voar tão alto! Sentar na mesa de um bar na qual os professores expõe as suas duras vidas é triste mas reconfortante por ver que eles são gente como a gente e não aqueles semideuses (porque somente os médicos se consideram Deuses completos) que transmitem o conhecimento! Poderia enumerar um monte de motivo para resumir a felicidade que ando sentido em cada dia que precede a minha formatura, mas não conseguiria chegar ao fim e ao cabo desse sentimento que transborda meu viver até realmente eu acordar (ou não!) desse sonho.  

Compartilho abaixo a fala que fiz e que iniciou o debate da aula!


A Dor e a Delícia de ser estudante-trabalhadora
Falar sobre a Dor e a Delícia de ser estudante-trabalhadora é relatar sete anos e meio de graduação em Saúde Coletiva o qual finalizo e me graduo na semana que vem; falar de um lugar em que tive um certo privilégio por estudar à noite e trabalhar 6h por dia no turno da manhã; falar de um lugar no qual pude aproveitar tudo que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem para oferecer; falar de um lugar que se não pensarmos nos outros nossa fala sempre será em vão... E é por e para isso que estou aqui! Falar, pensar, relativizar e questionar um tema tão caro e significante para nós estudantes-trabalhadores é estar aqui nesse exato momento ocupando esse lugar... Em setembro do ano passado estive na plateia dessa mesma aula, fiz um relato emocionado, fui convidada para dar uma entrevista no Jornal da Universidade e hoje estou aqui do outro lado para trazer a minha experiência com o tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso, o tão temido TCC, no qual escrevi sobre As Dores e as Delícias de ser Bacharel em Saúde Coletiva que foi um relato de experiência em forma de artigo, lá sim eu conto o que foram os meus sete anos e meio de Saúde Coletiva.

Trabalho há 12 anos no Grupo Hospitalar Conceição como Técnica em Nutrição no Hospital Fêmina durante meio turno, me considero uma favorecida, pois, como diz meu pai, estudar na UFRGS é “coisa de rico” tento entender meu pai ao relativizar que a sociedade e a própria UFRGS também pensam assim ao limitar a porta de entrada com um vestibular que preza pela seleção extrema, com cursos majoritariamente diurnos e que possuem uma enorme carga horária no qual precisa-se escolher entre comer e estudar (sendo bem radical na fala, mas extremamente realista com o dia-a-dia). Tais discursos precisam ser atualizados nas definições de que uma Universidade Pública é do povo, para o povo e pelo povo e que pode sim ter nela ricos e pobres, trabalhadores e estudantes, mães e filhos, brancos e negros, abraçando a diversidade dos públicos sejam eles: gays, lésbicas, heterossexuais, transsexuais, travestis e também as pessoas com deficiência. Levando em consideração que tivemos um caso recente de um rapaz que foi se formar e não tinha uma rampa de acesso, que Universidade é essa que é pública mas excludente ao mesmo tempo?! Precisamos repensar essa Universidade para todos e sair do discurso/da teoria para a prática. E é para todos os públicos que devemos acolher/escutar com a aula de hoje e que possamos ecoar esse assunto e atingir um público cada vez maior pois não estamos sozinhos, nunca estamos! Saber como vivemos, do quê nos alimentamos, onde estudamos, com quem moramos é mapear esses estudantes-trabalhadores e oferecer o que de melhor podemos dar o nosso apoio, uma palavra de consolo, uma dica de como aproveitar o dia para que ele tenha além das 24h, ou um simples “conta comigo, tá?!”

Fiz seis vestibulares para os mais variados cursos desde o ano 2000, passei em 2011, depois de 13 anos longe dos bancos escolares, de lá para cá estudei à noite, fiz os estágios obrigatórios durante o dia, participei dos mais variados projetos de extensão à tarde, das monitorias à noite e assim eu ia conseguindo folga no hospital para participar dos congressos, férias para realizar os estágios, mas... Sempre trabalhando! Dormir, para quê? Me divertir, com quem? Vida social, onde? Tô exagerando um pouco, minha orientadora tá aqui e não me deixa mentir, muito ela mandou eu parar de andar de bicicleta numa bela tarde de um domingo de sol para escrever o TCC! É o ônus e o bônus de se ter vida nas redes sociais.  

Não é fácil estudar e trabalhar, mas o mais difícil é desistir do sonho ao optar pela necessidade, não desistam! Levem o tempo que levarem (só não jubilem), mas não desistam... #FicaAdica semana que vem realizo um sonho meu e de minha família de formar um filho numa Universidade Pública, Federal e Gratuita que hoje em dia só é possível graças a Governos que oportunizaram políticas públicas de investimentos na educação superior e é por isso que estou aqui, é por isso que a maioria dos colegas que estão aqui ou que estão pleiteando por uma vaga na UFRGS podem hoje se orgulhar de ter uma chance de cursar uma Universidade. 

Deixo também a sugestão de uma música que fala assim: Como é bom sonhar / Sonhar não custa nada / Sonho e nada mais / Com os olhos abertos / Como é bom sonhar / E isso não custa nada / Mais que tempo... Esse refrão diz muito do que foi sonhar de olhos abertos durante sete anos e meio de UFRGS!

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