sábado, 28 de dezembro de 2019

Meu paizinho querido se foi...

Meu paizinho querido se foi...

Deixou esse plano pra viver a vida eterna ou simplesmente desencarnar para continuar a longa jornada de aprendizado nesse mundo de expiações. 

74 anos... 


Viveu intensamente tudo que poderia viver, realizou grande parte dos sonhos que pôde realizar, fez o bem sempre, era o quinto dos seis irmãos de sangue, o terceiro a deixar outros três irmãos! Era alegre, amoroso, religioso, ótimo pai, melhor tio, amigo verdadeiro e companheiro fiel de minha mãe, a “vida dele”! Deixou uma esposa, dois netos, uma nora, um genro e uma imensidão de filhos, dois de sangue e o restante de coração (primos, sobrinhos, afilhados, amigos e vizinhos). 

Ele dizia que a morte nunca vinha só, a dele foi rápida e rasteira na forma de um desmaio como ele sempre desejou, sem dar trabalho, sem sentir dor e, mesmo sem querer e acreditar, perpetuando sua vida em outras pessoas que tanto necessitam viver. 


"Uma vida salva oito." A vida do meu pai salvou duas, dois rins para duas pessoas diferentes. 


Queria ser enterrado, será cremado e "enterrado" em vários lugares! No mar, na serra, com a mãe de criação, com a irmã e o irmão. Processo doído, mas necessário! Aos parentes, irmãos, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, coral e igreja o que fica é o agradecimento de poder contar com o carinho, a presença, o pensamento, a oração e os desejos de boa recuperação!


Difícil empregar a teoria que tanto vi e estudei na prática... Mas, só de ter a certeza de que ele não sentiu nada a não ser o desfalecimento do desmaio, após ter um AVC Hemorrágico com dano no tronco encefálico, me conforto em saber que o corpo físico não sofreu e que o espírito está, com certeza, sendo tratado em outros planos. O que fica é a saudade, a lembrança dos bons momentos, o registro dos ensinamentos, a risada sincera e contagiante. 


Ele foi o amor da vida de minha mãe e ela foi a vida dele, 47 anos, 11 meses e 20 dias de casados um relacionamento sólido em tempos voláteis, um relacionamento leve em tempos duros, um relacionamento amoroso em tempos odiosos, um relacionamento real em tempos surreais...

Caros amigos, gostaria de aproveitar o momento para agradecer imensamente aos nossos vizinhos e amigos que correram para ajudar meu pai, acudir minha mãe e ficar conosco até meu pai ser encaminhado ao hospital, ao Sistema Único de Saúde (criado através da Constituição Federal de 1988) que possibilitou estarmos aqui hoje e não anteontem, que através do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) meu pai teve tempo de chegar ao hospital e fazer todos os exames possíveis para diagnosticar a causa do desmaio, a Saúde Suplementar do SUS que possibilitou o acesso do meu pai a um plano de saúde que o recebeu de braços abertos no Hospital Mãe de Deus no qual realizou exames específicos e ficou dois dias internado com todo o recurso possível para mantê-lo da melhor forma que podiam, aos médicos cardiologista, neurocirurgião e a equipe da CTI da instituição que foram diretos no diagnóstico dos reais motivos do quadro geral de saúde do meu pai desde o momento da internação e o que ocorreria numa possível reabilitação, a psicóloga que conversou comigo, com meu irmão e minha mãe para elucidar o que já sabíamos e para dar os encaminhamentos necessários para o que viria dali para frente, ao CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante) pela forma carinhosa e respeitosa de nos explicar como seria realizada a doação de órgãos e, retomando ao SUS novamente, por possibilitar que esses órgãos sejam doados a quem precise e que a vida do meu pai se perpetue não só na nossa memória como também na vida de outro alguém. 

O SUS é de todos nós e a sua defesa se faz necessária ontem, hoje e sempre!


Obrigada pelo carinho e solidariedade de todos!


Rossana Santos Rocha Mativi.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Aula Aberta: Construir a permanência do estudante-trabalhador na Universidade

Participar da Aula Aberta: Construir a permanência do estudante-trabalhador na Universidade como ouvinte no ano passado e como componente da mesa esse ano foi simplesmente demais! Ajudar no planejamento da aula e sugerir assuntos para a próxima é um reconhecimento sem tamanho para alguém que sempre almejou chegar longe, mas nunca esperou voar tão alto! Sentar na mesa de um bar na qual os professores expõe as suas duras vidas é triste mas reconfortante por ver que eles são gente como a gente e não aqueles semideuses (porque somente os médicos se consideram Deuses completos) que transmitem o conhecimento! Poderia enumerar um monte de motivo para resumir a felicidade que ando sentido em cada dia que precede a minha formatura, mas não conseguiria chegar ao fim e ao cabo desse sentimento que transborda meu viver até realmente eu acordar (ou não!) desse sonho.  

Compartilho abaixo a fala que fiz e que iniciou o debate da aula!


A Dor e a Delícia de ser estudante-trabalhadora
Falar sobre a Dor e a Delícia de ser estudante-trabalhadora é relatar sete anos e meio de graduação em Saúde Coletiva o qual finalizo e me graduo na semana que vem; falar de um lugar em que tive um certo privilégio por estudar à noite e trabalhar 6h por dia no turno da manhã; falar de um lugar no qual pude aproveitar tudo que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem para oferecer; falar de um lugar que se não pensarmos nos outros nossa fala sempre será em vão... E é por e para isso que estou aqui! Falar, pensar, relativizar e questionar um tema tão caro e significante para nós estudantes-trabalhadores é estar aqui nesse exato momento ocupando esse lugar... Em setembro do ano passado estive na plateia dessa mesma aula, fiz um relato emocionado, fui convidada para dar uma entrevista no Jornal da Universidade e hoje estou aqui do outro lado para trazer a minha experiência com o tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso, o tão temido TCC, no qual escrevi sobre As Dores e as Delícias de ser Bacharel em Saúde Coletiva que foi um relato de experiência em forma de artigo, lá sim eu conto o que foram os meus sete anos e meio de Saúde Coletiva.

Trabalho há 12 anos no Grupo Hospitalar Conceição como Técnica em Nutrição no Hospital Fêmina durante meio turno, me considero uma favorecida, pois, como diz meu pai, estudar na UFRGS é “coisa de rico” tento entender meu pai ao relativizar que a sociedade e a própria UFRGS também pensam assim ao limitar a porta de entrada com um vestibular que preza pela seleção extrema, com cursos majoritariamente diurnos e que possuem uma enorme carga horária no qual precisa-se escolher entre comer e estudar (sendo bem radical na fala, mas extremamente realista com o dia-a-dia). Tais discursos precisam ser atualizados nas definições de que uma Universidade Pública é do povo, para o povo e pelo povo e que pode sim ter nela ricos e pobres, trabalhadores e estudantes, mães e filhos, brancos e negros, abraçando a diversidade dos públicos sejam eles: gays, lésbicas, heterossexuais, transsexuais, travestis e também as pessoas com deficiência. Levando em consideração que tivemos um caso recente de um rapaz que foi se formar e não tinha uma rampa de acesso, que Universidade é essa que é pública mas excludente ao mesmo tempo?! Precisamos repensar essa Universidade para todos e sair do discurso/da teoria para a prática. E é para todos os públicos que devemos acolher/escutar com a aula de hoje e que possamos ecoar esse assunto e atingir um público cada vez maior pois não estamos sozinhos, nunca estamos! Saber como vivemos, do quê nos alimentamos, onde estudamos, com quem moramos é mapear esses estudantes-trabalhadores e oferecer o que de melhor podemos dar o nosso apoio, uma palavra de consolo, uma dica de como aproveitar o dia para que ele tenha além das 24h, ou um simples “conta comigo, tá?!”

Fiz seis vestibulares para os mais variados cursos desde o ano 2000, passei em 2011, depois de 13 anos longe dos bancos escolares, de lá para cá estudei à noite, fiz os estágios obrigatórios durante o dia, participei dos mais variados projetos de extensão à tarde, das monitorias à noite e assim eu ia conseguindo folga no hospital para participar dos congressos, férias para realizar os estágios, mas... Sempre trabalhando! Dormir, para quê? Me divertir, com quem? Vida social, onde? Tô exagerando um pouco, minha orientadora tá aqui e não me deixa mentir, muito ela mandou eu parar de andar de bicicleta numa bela tarde de um domingo de sol para escrever o TCC! É o ônus e o bônus de se ter vida nas redes sociais.  

Não é fácil estudar e trabalhar, mas o mais difícil é desistir do sonho ao optar pela necessidade, não desistam! Levem o tempo que levarem (só não jubilem), mas não desistam... #FicaAdica semana que vem realizo um sonho meu e de minha família de formar um filho numa Universidade Pública, Federal e Gratuita que hoje em dia só é possível graças a Governos que oportunizaram políticas públicas de investimentos na educação superior e é por isso que estou aqui, é por isso que a maioria dos colegas que estão aqui ou que estão pleiteando por uma vaga na UFRGS podem hoje se orgulhar de ter uma chance de cursar uma Universidade. 

Deixo também a sugestão de uma música que fala assim: Como é bom sonhar / Sonhar não custa nada / Sonho e nada mais / Com os olhos abertos / Como é bom sonhar / E isso não custa nada / Mais que tempo... Esse refrão diz muito do que foi sonhar de olhos abertos durante sete anos e meio de UFRGS!

domingo, 22 de julho de 2018

As Dores & as Delícias da Saúde Coletiva

Compartilho com os amigos, leitores do Blog, uma parte importante do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e uma música que muito diz sobre o meu momento atual com o fim de um sonho, ela se chama Fin de Fiesta e é do cantor argentino Kevin Johansen. Peço desculpas, de antemão, pela densidade, tamanho e intensidade do texto, mas seria impossível não colocá-lo na íntegra devido a cadências das Dores & Delícias, das Delícias & das Dores que de forma nada cronológica compuseram esses meus sete anos e meio de Graduação na UFRGS. Espero que gostem, que se emocionem, que se alegrem e que se vejam/lembrem delas (parte destinada aos colegas e ex-colegas).      
O sonho de ingressar na UFRGS me acompanha desde que comecei a frequentar as formaturas de amigos, vizinhos e parentes. O desejo de adentrar no Salão de Atos vestida de toga com um capelo na mão, ouvir meu nome, pegar o diploma ao som de uma música escolhida por mim, agradecer a todos que participaram daquela conquista (hoje, não existe mais a parte do discurso individual), ouvir o discurso do professor paraninfo e, no final, jogar o capelo para o alto sempre foi algo que muito almejei e que levei tempo para descobrir em qual Curso me encaixaria. O tempo voa, a vida dá voltas e cá estou no meu oitavo ano de Saúde Coletiva, realizando meu sonho, finalizando um curso superior, escrevendo o tão temido Trabalho de Conclusão de Curso e sintetizando nele tudo que vivi durante o Bacharelado. A dor de despertar do sonho se dilui na alegria de finalizar um projeto de vida e de ter a certeza de que sonhos se realizam. 

A longa permanência na Universidade se deu por inúmeros problemas pessoais e alguns outros que dizem respeito à falta de colocação no mercado de trabalho do profissional egresso. Acompanhei diversos colegas que, após se formarem, ainda não conseguiram emprego. Enquanto estive na faculdade, participei de vários Projetos de Extensão. Um deles, em particular, foi o “DivulgaSaúde Coletiva”, projeto de extensão que durou de 2014 a 2017 criado com o intuito de divulgar o Curso de Saúde Coletiva para gestores e trabalhadores de instituições públicas e privadas, do campo da saúde e da educação. Após algum tempo (cerca de dois anos), participando do Projeto e ouvindo de que o Bacharel em Saúde Coletiva é ótimo, aberto, um profissional sem igual, entre outras boas características, me dou conta que, infelizmente, temos muito a construir ainda. Nossa profissão não tem registro profissional, não temos vagas de emprego e continuar estudando (através de especializações, residências e mestrados) parece ser a única forma de desafogar os formandos e fazer com que cada vez mais se especializem, ainda que só consigam sobreviver através de bolsas de estudos.

Algumas pesquisas realizadas sobre a inserção do profissional sanitarista no mercado de trabalho corroboram com as minhas angústias e anseios e explicitam esta situação. Lorena et alii (2016) fizeram um levantamento nacional dos egressos da graduação em Saúde Coletiva no Brasil, no que tange a identificação, análise das áreas de atuação, atividades desenvolvidas, faixa salarial, vínculo empregatício e outros aspectos relacionados ao mercado de trabalho do bacharel em Saúde Coletiva. Diego e Ivan et alii (2015), analisaram os editais de concursos públicos de 2012 a 2015, com o objetivo de identificar as oportunidades de inserção do Sanitarista na carreira pública. Domingues (2016) também fez uma análise sobre a inserção profissional dos egressos do Curso de Saúde Coletiva do país para compreender e identificar em quais realidades se encontram os egressos deste Curso e se efetivamente atuam como Bacharéis em Saúde Coletiva através de um vídeo documental narrativo. 

As conclusões das referências acima convergem bastante no que tange a busca incessante pela tão sonhada inserção do Sanitarista no mercado de trabalho. Lorena et alii (2016) concluiu com a sua pesquisa que, além de delinear as trajetórias acadêmicas e profissionais dos graduados em saúde coletiva, utilizou-se de um instrumento que permitiu identificar as dificuldades desses ex-alunos em se inserir no mundo do trabalho da saúde pública/saúde coletiva, bem como Diego e Ivan et alii (2015) finalizaram sua pesquisa chegando à conclusão de que a maioria dos concursos ainda não privilegia o profissional graduado em Saúde Coletiva e o desconhecimento da formação do Sanitarista em nível de graduação direciona as vagas para profissionais de outras formações da área da saúde e exigência de especialização em Saúde Pública ou Saúde Coletiva e o Domingues (2016) espera que maiores articulações sejam feitas a respeito do assunto, no que compete as universidades, aos egressos e aos movimentos estudantis como um todo e para que se obtenha uma maior conexão entre todos envolvidos e militantes desta Graduação. Estes autores comprovam através das suas pesquisas o que tenho sentido e vivenciado nas minhas práticas diárias, tanto no trabalho em saúde como ao longo da graduação. Os resultados demostram a fragilidade e as dificuldades que este novo profissional tem enfrentado em relação a colocação no mercado de trabalho, mas, por outro lado, acabam dando visibilidade as preocupações e inquietações dos graduandos e egressos do curso de Saúde Coletiva. 

A teoria nem sempre vem acompanhada da prática, ao analisar as citações acima, lembrei de um episódio que passamos durante a minha participação no Projeto Divulga Saúde Coletiva que diz exatamente dos entraves que vivemos com relação as oportunidades de concursos públicos e colocação profissional. Na ocasião, eu havia conseguido um contato com a então vice-presidente e futura presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) para ver a possibilidade da inserção do profissional Sanitarista no HCPA, na época houve uma certa relutância dela em entender que o Sanitarista poderia sim ocupar um lugar na atenção terciária. O que gerou todo um estudo por parte do grupo do Divulga em analisar os pré-requisitos de um concurso que estava em vigor no Hospital Universitário e do qual o Bacharel em Saúde Coletiva poderia desempenhar as mesmas funções de um médico no cargo de auditor. A proposta foi encaminhada para a mesa diretora do HCPA onde os diretores, na época, gostaram muito da ideia mas não ocorreu aprovação da então diretora do HCPA. Os alunos da Saúde Coletiva mobilizaram-se enviando e-mails solicitando que o Reitor da Universidade intercedesse junto à diretoria do Clínicas para que a mesma aceitasse como pré-requisito o Bacharel em Saúde Coletiva no concurso do Hospital valorizando assim um profissional formado pela UFRGS e atuando no Hospital da Universidade. O pedido foi negado e até hoje não há a menor possibilidade do Sanitarista ocupar qualquer outro cargo dentro do HCPA que não aquele de estagiário curricular obrigatório e de assistente administrativo, cargo que existe e que muitos colegas Sanitaristas o ocupam já que o concurso exigi somente o Ensino Médio Completo para a vaga. Portanto, não há profissionais trabalhando na “ponta” do sistema de saúde ou no “chão de fábrica”, ainda que, durante nossa formação, tenhamos aprendido que estes seriam os nossos lugares. Mesmo que as esperanças sejam pequenas, nesse exato momento em que escrevo, o futuro parece acenar coma possibilidade de inserção, a médio e longo prazo, do Bacharel em Saúde Coletiva em um concurso do Grupo Hospitalar Conceição para a função de Técnico em Educação. 

Embora as dores sejam grandes, é impossível não relatar também as delícias de ter realizado este Curso nessa Universidade. Uma delas diz respeito à delícia de trabalhar com o tema da Comunicação & Saúde antes de eu terminar o Curso. Desde o meu ingresso na Graduação, fui autodidaticamente, aprendendo sobre e me exercitando nesse campo de saber, até então bastante novo e instigante para mim.Foi através dessa aprendizagem que criei um Blog para acompanhar minha trajetória ao longo do Curso. A curiosidade e o interesse pela área da Comunicação também me permitiram participar de três grandes projetos: a Rádio Web Saúde (RWS), o Portas Abertas e o Divulga Saúde Coletiva (já mencionado). O Portas Abertas é um projeto institucional da Universidade que acontece anualmente, momento no qual as portas da Universidade se abrem para a população conhecer o universo acadêmico e os cursos mostrarem como funcionam. A Rádio Web Saúde foi idealizada e criada por um grupo de alunos do Curso, no segundo semestre de 2010, visando transmitir informações sobre temas atuais e relevantes para a saúde da população brasileira, utilizando uma linguagem simples. Sua programação era inteiramente disponibilizada apenas na internet, podendo ser acessada em qualquer parte do mundo. Com a Rádio Web, aprendi a fazer uma comunicação diferente, entrevistei grandes referências da Saúde Coletiva, fui em vários congressos, conheci muitos colegas, fui a muitos lugares e aprendi com o grupo a fazer uma rádio diferente da usual. A ideia foi tão original e inovadora que fomos convidados a divulgar a RWS Brasil afora. Brasília, Chapecó e São Paulo são exemplos dos lugares que implantaram rádios semelhantes. Na Rádio, exercemos a criatividade e praticamos uma comunicação diferente daquela de uma rádio tradicional, uma comunicação que conquistou colegas, professores e que nos fez viajar pelo país. 

A Comunicação me acompanhou tanto ao longo do Bacharelado que, ano passado, fui entrevistada pelo Jornal da Universidade sobre o tema de estudar e trabalhar (UFRGS, 2017). O convite surgiu após a realização de uma aula aberta “Permanência do estudante-trabalhador: desafios e perspectivas” em setembro do ano passado na UFRGS, organizada pela Faculdade de Comunicação através de uma demanda do curso de Arquivologia que é noturno e segundo a Coordenadora da Comissão de Graduação da Arquivologia, Valéria Bertotti: “o curso vem montando um projeto de acompanhamento discente, nesse projeto a gente vê uma série de questões pertinentes a esse aluno que trabalha de manhã e de tarde e chega de noite na Universidade buscando o seu aperfeiçoamento, à conclusão de um curso". O tema da aula caiu como uma luva para a realidade vivida pelos estudantes da Saúde Coletiva desde sempre, pois somos, na grande maioria, trabalhadores. Tal experiência foi um momento único para uma trabalhadora-estudante como eu que tem uma rotina diária desgastante, mas, ao mesmo tempo, privilegiada. Trabalho seis horas por dia e possuo um turno extra além do noturno para estudar, fazer estágio e participar dos inúmeros projetos que participei na faculdade. Foi através da aula aberta e de uma fala bem pertinente à realidade que o estudante da Saúde Coletiva vivencia durante a graduação que fui indicada para ser entrevistada pelo Jornal da Universidade, no qual falei sobre como foi cursar o Bacharelado, conciliando as aulas noturnas com o trabalho diurno. A partir dessa aula conheci o Técnico em Educação, Igor Corrêa Pereira, e fiquei sabendo um pouco mais do trabalho dele e do artigo que ele escreveu sobre o aluno-trabalhador na Universidade Pública. No artigo, “Os desafios e as perspectivas da permanência do estudante-trabalhador na Universidade Pública brasileira: reflexões a partir do caso da UFRGS”, Igor faz uma reflexão sobre as perspectivas e os desafios da permanência do estudante trabalhador na Universidade pública brasileira, tomando como ponto de partida e analisando o caso da UFRGS e situa o debate contemporâneo sobre o abandono no ensino superior público brasileiro no contexto da recente democratização do acesso e consequente mudança do perfil do estudante, ampliando-se o número de discentes que estudam e trabalham. Esse quadro recente traz o desafio da mudança do comportamento institucional com vistas a superar a histórica separação entre trabalho e educação. O abandono no ensino superior configura um fracasso que não pode ser atribuído unicamente ao indivíduo que abandona, mas sim a um conjunto de fatores sociais que dizem respeito, em grande medida, a forma como se organiza as instituições de ensino, e sob um aspecto mais amplo, a um modelo de desenvolvimento do país. 

Se, por um lado, são muitas as alegrias, cursar Saúde Coletiva na UFRGS também me trouxe algumas tristezas. Uma delas foi quando, no mesmo período em que fomos convidados, enquanto participantes do Divulga Saúde Coletiva, para apresentar o nosso Curso na Superintendência Regional da Polícia Federal, dois professores da Saúde Coletiva foram indiciados, presos e seguem afastados judicialmente por acusação de desvios de recursos públicos (ESTADÃO, 2016; IRION, 2016; GLOBO, 2016; RBS, 2016; UFRGS, 2016, entre outras). A dor de ver a Saúde Coletiva nas páginas policiais dos maiores jornais do país foi bem difícil de suportar e superar. Conforme a reportagem de Zero Hora (IRION, 2016), “a apuração da Polícia Federal revelou que um grupo criminoso se utilizou da coordenação de projetos na área da Educação em Saúde com objetivo de desviar recursos, especialmente de dois programas ligados à Escola de Enfermagem da UFRGS: o de Educação em Saúde Coletiva (PESC) e o de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGCol)”(p.3). Não me cabe aqui julgar ninguém, muito menos inocentar, isso é trabalho da polícia e da justiça. O que importa é que foi decepcionante ver a Saúde Coletiva nas páginas policiais de vários jornais e saber que dois professores conhecidos internacionalmente estavam sob investigação, suspeitos de desvio de bolsas. O desencantamento com o futuro do Curso e a frustração com o mercado de trabalho que estávamos tentando conquistar a duras penas acabou fazendo com que eu me desestimulasse bastante com a graduação, o presente e o futuro dela. 

Assim como são tristes alguns momentos e percursos, registro aqui o prazer e a delícia de trabalhar/estudar/colocar em prática o tema da Comunicação & Saúde durante a minha trajetória no Curso. De certa forma, este artigo é fruto de um exercício de escrita das várias atividades realizadas. Além dos projetos já mencionados, realizei dois estágios curriculares obrigatórios (um no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e outro na Secretaria Municipal de Saúde), desenvolvi o Blog (já mencionado), realizei entrevistas, fui monitora acadêmica durantes vários semestres, entre outras atividades que fizeram com que eu exercitasse a Comunicação & Saúde. Embora eu tivesse, durante o Curso, me identificado tanto com o tema da Comunicação, não tínhamos, até 2016, uma UPP que tratasse especificamente desse tema. Após várias críticas minhas via Blog, presencialmente, nas aulas e nas reuniões, minha sugestão foi acolhida e temos, atualmente, uma UPP que trata exclusivamente do tema da Comunicação. Desde sua criação até semestre passado, fui monitora dessa UPP e tenho observado o quanto este tema tem sido bem aproveitado e apreciado pelos colegas. Nesse sentido, participar dessa conquista para o Bacharelado é/foi importantíssimo, pois mostra o quanto o Curso pode modificar seu currículo para inserir temas relevantes à formação profissional. Acredito que outras modificações curriculares se façam necessárias para excluir e acrescentar outros temas extremamente relevantes para o Bacharelado, mas isso, agora, será tarefa dos colegas que estão ou que entrarão no Curso. 

O relato feito até aqui não poderia ser finalizado sem que eu mencione a gratidão e a oportunidade de ter cursado uma Universidade Pública, Federal e Gratuita. "Como é que eu saio de um lugar que até hoje eu não acredito que entrei?!" Essa pergunta me fiz no início do semestre de 2018, quase como uma forma de desabafo, de desespero e de dor de acordar de um “sonho sonhado” junto com a minha família, de ter um filho se formando um uma Universidade Federal, dor de demorar tanto tempo para entrar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e não ter pressa nenhuma de sair dela. Dor de ver meus colegas não conseguirem a merecida colocação no mercado de trabalho devido a inúmeras dificuldades e de toda a conjectura política atual. Uma dor alegre, uma dor de dever cumprido, uma dor de perceber que os ciclos se fecham e que outros se iniciam, uma dor que a dualidade que me acompanha entende como uma delícia de saber que os sonhos se realizam e se tornam realidade. A delícia de estar em um lugar que sempre sonhei é fascinante, inacreditável e surpreendente! É difícil cair na real, é complicado se despedir de um lugar que tu sempre sonhaste estar e até hoje não acreditas que muito fez, aproveitou, descobriu e se redescobriu. Mas, é para e por isso que estou aqui finalizando um ciclo e iniciando outro. 

A dor de entrar com um propósito e sair com outro se dá pelo simples fato de que quando entrei na faculdade eu dizia que iria “mandar em quem manda em mim”. Doce ilusão e uma enorme presunção a minha, mas a ideia de que o Sanitarista poderia trabalhar no Grupo Hospitalar Conceição seria ótimo, pois ele é um profissional aberto que circula, respinga e toca em vários lugares, que poderia atuar na gestão das equipes de saúde, nos diversos setores da instituição. A dor de entrar com um propósito na faculdade gera, ao mesmo tempo, uma alegria de me dar conta de que saio com outros pensamentos, outras aspirações, várias inquietações e uma certeza de que,independente do tempo, cumpri minha missão e conheci uma nova área: a Comunicação & Saúde. 

A Universidade proporciona muitas oportunidades aos seus alunos que, de certa forma, são um suporte para os profissionais que seremos no futuro. Todos os projetos de extensão, PETS (O Programa de Educação Tutorial), cursos, seminários, congressos, encontros, estágios, bolsas e monitorias servem para que os alunos, de certa maneira (mesmo que limitada), tenham contato com o mundo do trabalho. Como, por exemplo, uma aluna de um curso noturno, trabalhadora, que se dedicou e aproveitou todas as oportunidades que a universidade pública ofereceu sairia no tempo regulamentar? Será que ainda teremos essa universidade pública, gratuita e inclusiva (na sua totalidade/integralidade)? Será que meus sobrinhos, filhos e netos terão a mesma possibilidade de conviver com essas dores e delícias? Ainda mais nos tempos atuais, de congelamento de gastos públicos por 20 anos que, conforme o Jornal El País, a Emenda Constitucional 95/2016 tem como objetivo frear a trajetória de crescimento dos gastos públicos e tentar equilibrar as contas públicas (EL PAÍS, 2016). Como será que os órgãos públicos reagirão a tamanho corte de gastos? Como reagirão os professores, servidores e alunos com seus salários congelados, distribuição de vagas, alocação de recursos, investimentos em laboratórios e tantos outros bens necessários para um aprendizado coerente com o mercado de trabalho e que faça frente à excelência que a UFRGS tem perante o país e o mundo? Como? As respostas não estão dadas ainda e somente o tempo dirá o quanto os cortes orçamentários prejudicarão os tão necessários investimentos sociais, de um país tão grande e desigual como o Brasil. 

Ao finalizar, registro a importância que os estudantes da Saúde Coletiva têm ao relatar suas impressões com, para e sobre o Curso para que a Saúde Coletiva cresça, evolua, melhore, se empenhe em atualizar-se com o que acontece no país e no mundo. A Saúde Coletiva deve formar profissionais com criticidade, mas também precisa acolher esse estudante com suas críticas, opiniões e sugestões. Ainda que o percurso tenha sido tortuoso, eu sinto ter sido acolhida, escutada e pude participar da construção de um tema tão importante que é a Comunicação & Saúde bem como da evolução dele dentro da grade curricular do Curso. Felicidade, delícia, orgulho, gratidão, empatia, alteridade, altruísmo... Conceitos que levo comigo, que a Saúde Coletiva me ensinou e que serei eternamente grata por poder colaborar com a experiência que tive na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Escola de Enfermagem e no Curso de Saúde Coletiva através desse relato, dessa história de vida, desses anseios, quereres, dessas dores & delícias! 

Sei que os agradecimentos são no início de qualquer trabalho, mas por que não fazer diferente e deixá-los para o final? Agradeço muito os professores que me ajudaram a chegar até aqui, enumerá-los/nomeá-los seria um sacrilégio com a capacidade que tenho de não lembrar dos nomes ou de esquecer de alguém... Mas, eles sabem o quanto são onipresentes na minha vida, na lembrança e no exemplo que eles geram em cada aluno que eles já tiveram, tem e ainda terão! Uma em especial me acompanha desde a primeira vez que ouvi a alegria da sua gargalhada e o quanto ela me incentivou, incentiva e incentivará muito a continuar na luta por um mundo melhor para o coletivo, o nome dela é Cristianne Maria Famer Rocha... Sim, essa mesma, minha orientadora do TCC, supervisora dos estágios que realizei, minha professora, minha mestra, leitora/revisora de textos assídua do meu Blog, minha confidente, minha mentora e incentivadora das monitorias que realizei. Orgulho tenho dessa mulher do (para o) mundo, filha, sobrinha, tia, mãe, esposa, professora, formadora de opinião por aqui, por e-mail e pelas redes sociais! Sempre incentivando, empoderando, acolhendo, empurrando do precipício e eternamente nos apoiando em tudo que precisamos. Sintetizar em palavras o que sinto por ela e quanta falta sua onipresença me fará é um misto de dor e delícia... Dor da presença física, delícia da onipresença porque será difícil deixar de segui-la pelas redes sociais e pelos e-mails! Cris, agradecer o muito que tu fez por mim durante todos esses anos é pouco perto da imensa gratidão que tenho pelo universo ter cruzado os nossos caminhos e por ter te posto ao meu lado em um dos momentos mais importantes da minha vida, da minha formação e da realização de um sonho. É com lágrimas nos olhos e o coração cheio de alegria que termino esse Trabalho de Conclusão de Curso para mim, para ti e para muitos outros que virão, o norte das dores e das delícias que tu me deste caíram como uma luva para que eu pudesse relatar a experiência que tive ao cursar a Saúde Coletiva na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 

sábado, 26 de maio de 2018

A semana dos socos no estômago

Semana cheia, semana de mudar de ano, semana de ir no cinema, semana de protestos e semana de eterno conhecimento!

Semana de mudar de ano... Essa semana fiz 36 anos, bahhh trinta e seis! 36 anos de eterno aprendizado, de intenso conhecimento, de família, de amigos, de trabalho, de inúmeras comemorações e de ver que o tempo passa para todos nós e o que faremos com ele, dele e para ele a cada ano que passa é o que dignifica e dá razão ao viver! Ano passado escrevi esse texto com o intuito de lamentar a idade e que ficou bem engraçado analisar os anos da minha vida, hoje, fazer 36 anos me trás uma paz em meio ao golpe indescritível tamanha felicidade em ver a data mudar, o ano passar e o tempo andar! Felicidades para mim e que eu possa viver muitos e muitos anos ainda!

Semana de ir ao cinema... Fui ver o filme O Processo, documentário nacional sobre o Golpe de Estado de 2016, golpe que evoluiu do militar para o parlamentar/judiciário, filme agoniante, emocionante, chocante, instigante, repugnante e um tanto tragicômico. O filme é de uma didática incrível ao explicar a sequência do que foi o golpe de 2016, acompanhando a luta dos senadores PeTistas na defesa da Presidenta Dilma e da democracia. Após o filme, houve um debate com a Diretora do documentário Maria Augusta Ramos, o cineasta Jorge Furtado e o jurista José Carlos. Debate fantástico sobre como o filme foi elaborado, as intenções de como levar a denúncia do golpe para os outros países, a edição linear do dia a dia dos senadores na luta árdua para vencer uma guerra na qual a derrota era certa e, como bem disse Furtado, o documentário foi para memorizar uma história que nos é negada o tempo todo e que, se não nos unirmos e buscarmos as mídias alternativas para conhecer as várias versões do mesmo fato, viveremos na ignorância. Após o debate, conversei com a Maria Augusta e o Furtado sobre a carta que escrevi ao eterno Presidente Lula e disse das minhas impressões sobre o filme, o quanto ele me chocou e o quanto eu o divulgaria... ainda que me seja impossível ou muito difícil vê-lo novamente! Mas, vale... Vale muito a pena ver o documentário, super indico, vá, veja, tire suas próprias conclusões e tome seus próprios socos no estômago com tudo que o filme retrata e com a fala (autocrítica) brilhante do Gilberto Carvalho, as defesas maravilhosas do José Eduardo Cardoso, as loucuras da Janaína Paschoal, a luta incansável da senadora Gleisi Hoffmann e do senador Lindeberg Farias. Vá ao cinema, lote as salas, leva os amigos coxinhas e os PeTralhas também! Afinal, tod@s devem(os) ver o filme, todos devem(os) saber sobre os bastidores do Golpe! Sobretudo porque ele ainda não acabou... e, a cada dia, temos mais e mais motivos para seguir lutando contra todas as inúmeras estratégias utilizadas por grupos minoritários para se perpetuarem nos “lugares de poder”!


Durante o debate, o público pôde falar sobre as suas impressões e os relatos foram incríveis, os que me chamaram mais a atenção foi a fala de um rapaz, funcionário da Petrobras, que se emocionou muito com o filme e contou um pouco do que vive a Estatal nesse momento de crise, de especulação e de contínua tentativa de venda do patrimônio público. Outra senhora indicou o documentário Quanto tempo o tempo tem, disponível no link ao lado e no Netflix. Assisti e super me identifiquei! É fantástico! Outro soco no estômago que vale a pena! No final do filme, o sociólogo e escritor Domenico De Masi diz o seguinte: "Se você continuar a viver o tempo como o vivia antes, este filme é inútil para você e para todos. É um roubo." Por quê? - pergunta a diretora do filme: "Porque é inútil perder tempo trocando ideias, se esta troca de ideias não muda a nossa existência. O tempo é precioso. O tempo é precioso porque é cheio de possibilidades. Se depois de passar o tempo, eu vivo como vivia antes, significa que não aproveitei as possibilidades. Portanto, todos nós temos que viver, devemos vivenciar esta ocasião como uma meditação sobre o tempo, que deve servir para mudar o modelo de vida do seu tempo. Se, ao final do filme, vocês continuarem a viver o tempo como o viviam antes, terão roubado meu tempo, o tempo de vocês e o dinheiro do Estado."


Mas esta também foi uma semana de protestos dos caminhoneiros, de falta de gasolina no país inteiro, de avanços, retrocessos e de eterna instabilidade política... tudo isto certamente mudará radicalmente e, para pior,o rumo do país... tristes tempos!

Foi, sem dúvidas, uma semana de muito conhecimento interno... De dualidades, de curiosidades e de uma eterna busca pelo aprendizado que só uma boa geminiana como eu tem! Buscas estas que me levarão à frente, ao precipício ou que me farão com que eu retroceda algumas casas nesse enorme tabuleiro que é a vida! Enquanto isso, vou curtindo um bom momento, planejando encontros e tentando me concentrar no TCC (pois a vontade de escrever não deve somente se restringir ao Blog!).

Gabriel O Pensador e sua música “Tô Feliz (matei o presidente) 2” me ajudaram a escrever o texto acima, o qual compartilho com vocês!

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Carta-convite Aberta ao Luiz Inácio Lula da Silva

É com imensa alegria que te convido para a minha formatura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Curso de Bacharelado em Saúde Coletiva que se realizará no dia 21 de agosto de 2018, às 18h, de uma linda terça-feira de sol premiada por um friozinho sulista!

Impossível te deixar de fora de um dos momentos mais importantes da minha vida!
Impossível não lembrar com carinho de quem tanto fez para que momentos como esse se tornassem realidade, contribuindo para que velhos sonhos se realizassem!
Impossível não tê-lo como amigo, irmão, tio, primo e Presidente!
E mais impossível ainda é passar por estes momentos sem estar junto contigo!

Se hoje eu trabalho e me formo em uma Universidade Pública, Federal e Gratuita é por tua causa, Lula!

Trabalho no Grupo Hospitalar Conceição, mais precisamente no Hospital Fêmina (mas já passei pelos Hospital Nossa Senhora da Conceição, Hospital Cristo Redentor, Hospital Beneficência Portuguesa, Hospital da Brigada Militar, Hospital de Clínicas de Porto Alegre entre empregos e estágios). Sou atualmente Técnica em Nutrição da Unidade de Internação no Fêmina, mas já trabalhei no Banco de Leite Humano e na Produção desse mesmo Hospital, bem como na Unidade de Internação e na Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional do Hospital Cristo Redentor. No Hospital Nossa Senhora da Conceição fui estagiária, trabalhei como Atendente de Nutrição de 2002 a 2003.

Lula, foi trabalhando como estagiária no Hospital Conceição, em 2003, que assisti a tua posse pelos televisores dos pacientes internados no memorável dia 1º de janeiro! Emoção sem igual! Entrar em cada quarto para entregar a merenda e te ver em cada telinha, lembrar da felicidade daquelas pessoas em ver alguém que lhe é próximo chegando no cargo máximo de poder de um país que tanto necessitava/carecia/precisava de líderes como tu, não tem como descrever em palavras! Daquele momento em diante, senti que muita coisa iria mudar na minha vida e na vida de muita gente sofrida que precisava/necessitava de alguém que olhasse por todos nós... E muita coisa mudou! Mudou tanto e para melhor! Mudou a ponto de incomodar e desacomodar muita gente que vive uma relação de amor e ódio por ti, pelo Partido dos Trabalhadores e pelo povo brasileiro!

Entrei no Curso Técnico em Nutrição em 2002, na Escola Técnica Estadual Ernesto Dorneles e, em 2005 prestei o concurso para o Grupo Hospitalar Conceição. Fui chamada no fim do mesmo ano e ingressei na instituição em 2006. De lá para cá, já se passaram 12 anos de trabalho em dois grandes hospitais do Grupo, Cristo Redentor e Fêmina.

Dos vários sonhos que já realizei e que ainda tenho por realizar, um deles foi o de trabalhar em um hospital. Desde criança, sempre quis trabalhar com a área da saúde. Tanto quis, que já passei por seis dos 24 hospitais de Porto Alegre. Gostaria de poder conhecer a fundo outras instituições, mas creio que esse sonho não se tornará realidade tão cedo!... Ao menos, que tu volte a comandar a nossa Nação, Lula! Rezo todos os dias para que isso aconteça!

Em 2010, precisei sair da inércia e da latência que o trabalho proporciona para traçar novos objetivos de vida e de crescimento profissional e intelectual. Pesquisei alguns dos cursos de graduação no site da UFRGS e, qual não foi a minha grata surpresa, quando encontrei na letra A o curso de Análise de Políticas e Sistemas de Saúde! Encantada com a possibilidade de voltar a estudar, retornei aos bancos escolares depois de 13 anos e de várias tentativas frustradas de entrar na "mãe Urguis" para os mais diversos cursos. Assim, depois de cinco vestibulares, passar em quarto lugar de um curso novo, meu 2011 começou como um sonho... E, depois de oito anos, estou aqui tentando despertar do sonho de cursar uma Universidade Federal, Pública e Gratuita... O desejo de cursar a UFRGS fez com que eu postergasse o curso até quase jubilar! Acabei diminuindo as cadeiras devido ao trabalho, à saúde, a falta de emprego para os colegas egressos, o anseio de aproveitar tudo o que a UFRGS tinha para oferecer. Até quando a UFRGS continuará sendo pública?! Não sei! Meu pessimismo é gigante e algo me diz que meus sobrinhos não terão as mesmas oportunidades que tive! Triste tempos vivemos, Lula!

O Curso de Análise de Políticas e Sistemas de Saúde mudou de nome em 2013 e passou a se chamar: Saúde Coletiva. Foi criado por intermédio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que representou um baita investimento na educação superior! Gratidão tenho por ti que fez o sonho de muita gente se realizar! 

Na Saúde Coletiva, aflorei meu lado político, que me permitiu reconhecer meu passado, aceitar o meu presente e planejar o meu futuro! Descobri também, nesse Curso e graças aos professores que tive, no passado, uma nova área -  Comunicação & Saúde – que me possibilitou desenvolver o dom da escrita. Com estas novas aprendizagens, criei um Blog (http://rossana-saudecoletiva.blogspot.com.br/) que me ajudou a escrever o que a Saúde Coletiva me ensinou e me auxiliou a relativizar o mundo que vivemos!

Aprendi muito mais durante a graduação! Ampliei minha rede de contatos e tive a oportunidade de conhecer, nos diferentes eventos e projetos dos quais participei, as “lendas vivas” da Saúde Coletiva (profissionais, professores, colegas)! Com a Saúde Coletiva, viajei pelo país, conheci lugares lindos, conversei com pessoas maravilhosas, entrevistei grandes referências... mas também, com a Saúde Coletiva, fui do amor incondicional ao desespero total! Desespero de não haver colocação no mercado de trabalho para o Sanitarista. E é com ela e para ela que encerro um ciclo, acordo de um sonho e continuo na luta por uma saúde pública de qualidade, com equidade, universalidade e integralidade!

Iniciei a escrita desse convite após a confirmação de que a Deputada e candidata à Presidência, Manoela d'Ávila, acenar com a possibilidade de entregar este convite ao meu querido e amado Presidente Lula (difícil dizer que tu é ex... Tu sempre será o MEU PRESIDENTE), no dia em que manifestações em apoio à tua prisão ecoam Brasil afora... Durmo pensando na carta-convite e acordo escrevendo ela no dia em que será votado o teu Habeas Corpus, no dia em que saberemos se um dos maiores estadistas do mundo será julgado por crimes que não cometeu, no dia em que uma Guerra Civil deveria ter iniciado nas ruas... Dia em que muitos lembram, com tristeza, da morte do maior ativista pelos direitos humanos, Martin Luther King! Dia chuvoso, dia de protestos do funcionalismo público estadual contra a privatização da educação... Dia difícil...

Pior ainda é retomar a escrita na noite de um sábado no qual tu te entrega, Lula! No dia em que acordo devagarinho do meu sonho de cursar uma Universidade Federal, no dia em que tiro fotos com a toga da formatura ao lado dos meus pais, meus colegas, meus amigos e professoras! Dia de sol e calor em Porto Alegre, dia de acompanhar pelas redes sociais o que de pior está acontecendo num dia tão feliz para mim e para a minha família que sempre sonhou com os filhos trabalhando via concurso público e formados em uma Universidade Pública, Federal e Gratuita! Enfim, dia de emoções...




Ultimamente digo e repito que “quem não sabe de onde vem, nunca saberá para onde vai”... Fácil é te julgar, fácil é apontar o dedo para ti, fácil é ficar feliz com a tua prisão... Difícil mesmo é olhar para si e perceber que não aprendeu nada com as oportunidades que teve em 14 anos de governos de esquerda que deram mais do que peixes e, sim, ensinaram a pescar! Fácil falar do Bolsa Família sem nunca ter passado fome, fácil falar do “Luz para Todos” se nunca viveu na escuridão, fácil falar do Sistema Único de Saúde alegando não precisar dele por ter o seu plano de saúde privado – santa ignorância, mal a pessoa sabe que vive imersa nele desde que nasceu e que, para que sua saúde esteja em dia, depende única e exclusivamente do SUS – SUS esse que está com os dias contados e que no dia 10 de abril, na próxima semana, haverá um Fórum que discutirá a criação de um Novo Sistema Nacional de Saúde, como se o nosso SUS não fosse considerado o melhor do mundo! Tempos difíceis Lula... 

Quanto a mim, bom vou continuar realizando o meu sonho de trabalhar num hospital, vou dar de presente o canudo da UFRGS ao meu pai e seguir defendendo minhas ideologias! Pois, me soa estranho as pessoas desejarem meu sucesso profissional... Como obter sucesso em tempos de golpe, de cerceamento de direitos, de uma ditadura que evoluiu do militar ao judiciário, da venda diária do país ao capital financeiro internacional... Como?! Como conseguir de volta um governo que lute para e com o povo, que invista no público, que consiga reverter o que de pior já fizeram desde 2016? Muitos dirão que é pessimismo meu, que a Universidade forma o profissional e quem tem que correr atrás de emprego sou eu mesma, volto a perguntar... “Como?”. Participei de alguns projetos de extensão, durante o Curso, que me deram embasamento para ser pessimista que me tornei. Um dos projetos era o “Divulga Saúde Coletiva” (https://divulgasaudecoletiva.wordpress.com/), projeto criado com o intuito de divulgar o Curso de Saúde Coletiva para a população, empresas, hospitais, entes públicos e privados. Após algum tempo, participando do Projeto e ouvindo de que o Bacharel em Saúde Coletiva é ótimo, completo, um profissional sem igual, entre outras boas características, me dou conta que, infelizmente, temos muito a construir ainda! Nossa profissão não tem registro profissional, não temos vagas de emprego no mercado de trabalho... Diante disso, a desmotivação aflora e é impossível não desistir num momento desse, não esmorecer...

Enfim, impossível não se estender demais na escrita, aprofundar o debate e contar uma história de vida para um fim tão nobre que é o convite para formatura de uma trabalhadora da área da saúde, filha de uma dona de casa com um bancário aposentado, sobrinha de quatro tios professores aposentados e um policial civil aposentado e irmã de um bancário. Uma família simples do interior do RS que muito lutou por um lugar ao sol e que nunca obteve nada de “mão beijada”... Tudo foi construído e conquistado com muito suor e trabalho! Família de origem Getulista e Brizolista “de raiz”! Que, talvez, hoje, não consiga raciocinar um pouco além da caixa e ver o quanto o país mudou, o quanto as pessoas ao nosso lado evoluíram e o quanto a gente mesmo saiu de uma zona de conforto para outra um pouquinho melhor! A mídia dominante impera e faz todos verem e pensarem que estão em um país melhor... uma pena!

Bom, acredito Lula que até agosto muita água há de rolar por debaixo dessa ponte... Assim, creio que até a minha formatura tu possas receber essa carta-convite, saber um pouco mais da minha história, compartilhar da minha alegria e, se não for possível estares comigo pessoalmente, estarás em pensamento, do meu lado na realização de mais um sonho de vida!
Obrigada Lula, obrigada por tudo que tu representas para mim e para uma nação, obrigada pelo estadista que tu te tornaste, obrigada por tirar o país do mapa da miséria e da fome da ONU, obrigada por suportar os desígnios da vida, obrigada por estares onde tu estás nesse exato momento, resistindo bravamente ao que a vida e a luta te impuseram! Saiba que, por aqui, caminho e luto para te ver LIVRE, ainda que deseje te aprisionar no meu coração!

Um abraço apertado do tamanho do mundo de quem te admira pra caramba e de quem torce para um final feliz sempre!

Rossana Santos Rocha Mativi

terça-feira, 3 de abril de 2018

A Saúde Coletiva e seus eternos socos no estômago


Na Unidade de Produção Pedagógica de Apoio Integrado em Saúde Coletiva: Promoção, Vigilância e Educação da Saúde, última "cadeira" da graduação no meu último semestre de aula, nos foi proposto trabalhar com as metologias de pesquisa e a professora Stella pediu para que assistíssemos o filme Jogo de Cena e para que escrevêssemos sobre ele.

Bom, vamos lá...

Vi esse filme no cinema com a minha mãe, minha tia, a Adriana e a mãe dela! Eu e a Adri escolhemos esse filme por se tratar de um filme nacional e por não ter muitos entraves no entendimento das respectivas "mamães"! Lembro que as matriarcas dormiram durante o filme, acordaram reclamando e não entenderam muito a proposta do documentário! E eu?! Eu adorei o filme, me emocionei muito com as histórias de vida que o filme apresentou e jurei nunca mais levá-las ao cinema

Ontem revi a película e qual não foi a minha surpresa?! O filme continua atualíssimo, continua emocionando, causando revolta, empoderando, incomodando, fazendo pensar, refletir, analisar e lembrar de histórias pessoais que poderiam fazer parte do documentário! 

(Abrindo um parêntese... Ontem foi um dia incomum para mim! Dia de rever relações, dia de revelações que eu nunca saberia se o destino não insistisse em cruzar o meu caminho, dia de relativizar  o que sempre nos foi posto/imposto e iniciar uma mudança profunda de posicionamentos, dia bom! ... Fechando o parêntese!)

Voltando ao filme... 
Impossível relativizá-lo sem trazer certos "spoilers" sobre o documentário! O filme trata sobre histórias reais relatadas por quem viveu e por atrizes que tentaram interpretar tais relatos... A emoção, a serenidade e o desespero encanta, incomoda e faz chorar junto! Filme feminista, empoderado e realista no qual as atrizes se emocionam mais do que as mulheres que viveram suas histórias! Filme bom de se assistir com o coração leve e a mente tranquila, que dá uma vontade imensa de compartilhar histórias e ver que o que sofremos não se compara a ninguém apesar das causas serem bem parecidas!

Filme sem grandes locações, sem super produções, simples, direto, reto...
Filme de duas cadeiras no palco de um teatro...
Filme de histórias de vida...
Filme para usar a imaginação...
Filme para pensar, refletir, rir, chorar, se emocionar, sofrer junto, torcer por um final feliz...
Filme para assistir uma, duas, três ou quantas vezes for necessário...
Filme com duas músicas, uma delas é um rap outra uma cantiga de ninar!


Enfim, um filme, uma canção de ninar, uma reflexão, uma história vivida, sentida e contada! Adiciona esse filme na lista, salva o link nos favoritos, escuta a canção de ninar, imagina como o filme deve ser emocionante que a coragem de sair do mundinho bolha vem e te faz ver o filme com gana, com vontade, de coração e alma leve para acolher, receber, entender, ouvir, ver e sentir o outro!

sábado, 17 de março de 2018

A MELHOR formatura da minha vida

A Lisana, minha amiga e ex-colega de estágio nas Relações Públicas da Secretaria Municipal de Saúde, formou-se na última quinta-feira em Publicidade e Propaganda na Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul! 

A Faculdade de Comunicação formou 89 alunos dos quais 15, eram lindos negros! Achei pouco, mas as turmas estão aumentando e com elas a minha felicidade vai explodindo tamanho respeito, admiração e encantamento com quem de direito deve siiiiimmmmm ocupar um lugar em uma casa que é do povo e para o povo! 

Não lembro quando a Lis falou que iria se formar no dia 15 de março de 2018, mas lembro que eu disse logo de cara que iria! E... Fui! Fui porquê saberia que seria uma formatura épica, porquê previ (de certa forma) que algo mágico aconteceria e porquê ela merece todos os amigos por perto! Formamos um grupo muito bacana, né Lis?! O grupo do RP Forever no whats e nos bares da vida! Ex-estagiários com a melhor chefe geminiana de todos os tempos e com a assistente administrativa mais divertida e de ascendência geminiana do Planeta!

Bom, o dia chegou... 
Eu e a Kellen fomos juntas, o Edu chegou depois, a Betina e o Matheus não chegaram a tempo de literalmente #OCUPAR a Reitoria e a Kátia não pode ir devido ao trabalho árduo que rolou na SMS. Representamos muito bem a chefe e na minha formatura ela estará, com certeza! 

Abrindo um parêntese...
(Já fui em muitas formaturas na UFRGS, depois que iniciei a Saúde Coletiva tenho ido todo o semestre - um preparo para a minha? SIM! - sempre gostei de formaturas, de discursos, de oradores, dos formandos agradecendo no púlpito! Hoje, não se pode mais agradecer, uma pena! Sempre que ia, ficava me perguntando onde estão os negros da turma?! Onde estão os negros no auditório?! Onde eles estão?! Aqui também é a casa deles! Sempre me fiz essas perguntas, em casa, na família, no prédio onde moro, na igreja que frequentei, na praia que vou desde que nasci nos colégios públicos que estudei, no meu local de trabalho! A resposta que eu tinha era pouca, contava-se nos dedos da mão!) Fechando o parêntese!

Na quinta-feira faltou dedos da mão para contar a quantidade de negros no palco da Reitoria e o auditório?! Ahhhhhh, esse foi lindo! Me arrisco a dizer que mais de 70% da Reitoria era negra! Me senti em casa, acolhida pelo casal que sentou do meu lado, pelos jovens atrás de mim e pela família da fileira da frente! A Reitoria da UFRGS estava com os filhos dela em casa! Filhos estes que estão tomando conta de espaços que lhes são de direito, resistindo as arbitrariedades que lhes estão sendo impostas, ocupando espaço como oradores e interpretando hinos que sempre estiveram em desacordo com o tempo e a verdadeira versão da uma história sofrida em uma guerra em que se comemora o bairrismo da derrota! 

Obrigada Lisana! Obrigada de coração por me dar o presente de estar e me fazer presente de corpo, alma e coração na MELHOR FORMATURA DA MINHA VIDA! Os discursos dos teus colegas oradores e dos teus professores paraninfos ressoam em mim todos os dias me fazendo pensar, seguir, evoluir e resistir! Pois, preciso de doses diárias de resistência e resiliência para enfrentar o mundo cão em que estamos vivendo e o que nos aguarda daqui para a frente!



A música inspiradora do post se chama Ela Só Quer Paz do cantor Projota! Música que intitulei como minha pela letra, pela musicalidade e pela paz! Dedico essa música a minha querida Lisana e a todos os formandos 2017/2 da Fabico.