Os trabalhos da Saúde Coletiva, além de serem novidades são, também, desafiadores e construtores de seres humanos melhores e condizentes com a realidade que nos espera para daqui a quatro anos.
Digo isso porque tem um trabalho em especial consumido meu tempo, neurônios, dedicação e paciência... E pelo qual já criei profundo apego para abraçar a causa e leva-la adiante. É um trabalho sobre o Hospital Colônia Itapuã, antigo Leprosário em Viamão, para a UPP de Políticas Públicas do professor Alcindo.
Confesso que quando peguei o hospital, em sorteio, fiquei indignada, pois sabia onde ficava e o quanto a distância seria sinônimo de dificuldade para a realização do trabalho. Descobri ao longo das três idas e vindas que 1h30min de ônibus (somente a ida!) é pouco perto da riqueza de histórias, depoimentos e vidas que têm por lá.
Na primeira vez, a viagem durou 1h de carro, fomos em três colegas de grupo. Era um sábado nublado e úmido em Porto Alegre , até achei que não tiraria boas fotos... Que nada! Lá estava um dia lindo, ensolarado e quente, tiramos ótimas fotos e interagimos bastante com os pacientes psiquiátricos. Saí de lá com uma sensação inexplicável, era um misto de choque e compaixão.
Difícil né?! É bem complicado, até mesmo porque garanto a todos que quando fossem lá e vissem, soubessem, lessem, se inteirassem e perguntassem aos funcionários como e em que condições vivem os pacientes internados e os que já passaram por lá levariam um “soco no estômago” que nem eu!
Na segunda vez que estive no HCI, levei minha tia que, mesmo morando perto, nunca havia visitado o hospital ela ficou encantada com sua estrutura e história. Nessa vez, tive a oportunidade de conversar com o diretor e a enfermeira os quais, receberam-me muito bem e explicaram-me toda a história do hospital. Pela segunda vez, fiquei chocada com os relatos de que não há internações no hospital e que eles tratam pouquíssimos pacientes hansenianos e psiquiátricos. Mais difícil ainda saber disso, já que a comunidade que vive em torno do hospital é extremamente carente de atenção em saúde e que uma estrutura como a do hospital está sendo tragada pelas ações do tempo. Preciso fazer alguma coisa depois de formada...
Na terceira e última vez, que estive finalizando minha pesquisa peguei o relato dos pacientes, em Banners comemorativos aos 60 anos do hospital em 2000, que estão espalhados pelo prédio administrativo. Terceiro “soco no estômago”, neles havia relatos dos pacientes, das irmãs e dos funcionários desde o início do HCI até o preconceito causado pelo estigma da Lepra, passado pela sociabilidade, impressões, cotidianos, envolvimento, significado, convívio. Pude, a partir dos depoimentos, entender um pouco mais do porquê da Instituição ser imensa, em área total e construída. A idéia era isolar os pacientes e, para isso, foi organizada uma pequena comunidade com todos os ônus e bônus (com casas, padaria, lavanderia, cadeia, prefeitura, central de luz...) de uma cidade.
Depois de saber da história e dos relatos do HCI fiquei com muita dificuldade de entender o porquê de reclamarmos tanto da vida, o porquê de acharmos que o nosso problema é sempre maior que o do outro e o porquê de não sabermos olhar para o lado?!?!?...
Fica a dica... Quando forem visitar a Reserva de Itapuã não deixem de dar uma passada no hospital ele é um museu a céu aberto. Vale à pena!
Obrigada Alcindo por me oportunizar uma vivência desta!